Estamos já de saída de Crottes, este pedaço de céu nos arredores de Paris. A sede, a Quinta da família da Silva: os anfitriões, os tios do João, emigrantes portugueses. Gente boa, de riso honesto e simples.
Chegámos e imediatamente estávamos em casa. O João, pelas razões normais. Eu, não sei porquê. São aquelas coisas que não têm razão, não têm justificação.
Simplesmente acontecem quando são características de pessoas com coração aberto, como as portas aqui de casa.
Um dia a minha casa vai ser assim, portas abertas.
A quinta é simples, a paixão pelos animais é denunciada pelo amor no tratamento das éguas, cadelas, galinhas e gatos... A paixão pelos momentos importantes denunciada pelo tempo passado à volta da mesa, em família, com cozinhados de festa, do forno de lenha à panela da cabidela. Como se fosse sempre dia de festa. Se calhar porque é mesmo. Todos os dias são dia de celebrar o Amor em família, o pôr em comum os tempos de cada um, em histórias contadas e memórias vividas.
Longe das urgências do mundo, todos conseguem cá passar umas horas. Aqui não se sobrevive ao mundo como estamos habituados, aqui vive-se.
Um dia li a pergunta de como se deveria medir a vida. Se se devia medir em anos, horas, minutos... Se em risos, gargalhadas, lutas, conquistas... Acontece que estou convencido que a maneira certa de medir a vida é medi-la em Amor.
E aqui passam-se muitas coisas que não se pagam. Esta gente - gente boa! - usa o skype mesmo não tendo nada para dizer. Já tinha visto isto em Portugal, com a mesma família, mas não tinha entendido. É uma maneira de ESTAR. Quem se ama não precisa de estar a fazer coisas quando está junta, às vezes basta mesmo pura e simplesmente ESTAR. Sem mais. Só estar. E eu que não entendia os silêncios nas chamadas de skype...
Segundo dia, PARIS! Free City Tour, como sempre. Desta vez temos a companhia do Diogo, irmão do João para quem não sabe, que acompanhou o inglês do nosso guia com maestria! Penso que ainda lhe terá mandado um boca sobre Portugal ser campeão europeu enquanto falávamos de pastéis de nata. Sim, o nosso guia tinha estado em Lisboa e sabia o que eram pastéis de nata.
Para quem conhece Paris é fácil entender que 3 horas a pé dá para ver muito pouco. Estivemos apenas no centro, ali à volta do Louvre, onde por entre histórias de Napoleão e conquistas da riquíssima história francesa, o que nos ficou foram os pormenores da influência nazi na cidade (talvez por nos ter nitidamente marcado a viagem), em concreto o facto de grande parte da cidade ter sobrevivido aos ataques Nazi (instruídos para rebentar as bombas instaladas por baixo da cidade prontas para a destruição total) foi o general responsável máximo pela sua detonação, já com as forças de Hitler a perder a guerra, ter dado ordens a todas as forças terrestres retirarem para a Alemanha e ter mandado bombardear apenas a extremidade da cidade de Paris para que as forças em retirada vissem apenas uma cortina de fumo e pudessem dar o feedback que a cidade estava arrasada. Foi o que aconteceu, e toda a valiosíssima riqueza da cidade pode assim ser preservada.
Viagem de volta, transito monumental, mais de 1h30 entre carros, mesmo depois de fugirmos para bem fora do centro na complexa rede de metros e suburbanos.
Há um evento na pequena vila de Crottes: Eucaristia este domingo! Não sabendo bem se a "crise clerical" é igual aqui e em Portugal, a verdade é que parece que por cá é das únicas missas este mês, senão a única. Eu e o João treinados nestas questões de celebrar a nossa fé à Mesa - como aquele Jesus de Nazaré tanto falava - claro, íamos. Porque não fomos durante todo este tempo e porque fazia todo sentido celebrar em pequena comunidade como era aquela. Dirigiram-nos um convite engraçado, tocar as musicas acompanhando o coro! A música realmente não tem línguas, e enquanto o coro cantava em francês, nós íamos acompanhando as pautas na sua língua universal. Fazer os nossos dons render e sentirmo-nos totalmente dentro da dinâmica daquela vila foi uma experiência comunitária brutal. Parece que tinha de ser assim!
Outra particularidade: o padre! Pergunta-nos em francês de onde somos, de onde vimos, que andámos a fazer... e ao respondermos, ele começa imediatamente a falar em português connosco! Italiano mas com ligações ao Brasil, ainda se predispôs a fazer-nos uma maravilhosa massa italiana, mas nós íamos embora logo na terça feira... promessas de ficar para uma outra oportunidade!
No início da celebração, começa - para espanto de todos - em português: "A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo estejam convosco". Espanto de todos, divertimento para quem sabia que nós estávamos lá. Entretanto a explicação por parte do padre, mas significou para nós - se dúvidas ainda houvesse - que estávamos a ser acolhidos, também daquela maneira, em casa.
Novo dia, desta vez, viagem à terra da Joana d'Arc. Enfim, onde tinha uma casa que ao que parece era dela que o Google nos disse que era ali mas na verdade parecia só uma casa. Perceberam a ideia? Sem Free City Tour não é a mesma coisa. Basicamente é esta a ideia: sem Free City Tour não é tão giro.
Os dias seguintes, um, dois, uma vida a que soube aquele descanso, passaram em família e, de resto, só faltava mesmo o regresso, o cheiro ao nosso Porto com o Douro serpenteante até ao Atlântico como cartão de visita... como se viéssemos visitar... como se não estivéssemos a regressar.
E pronto, hora de despedidas e agradecimentos!
Antes de mais, a todos os que tornaram possível esta experiência:
Família da Silva, nossa Família à chegada da experiência de uma vida, em Crottes;
Aos papás, mamãs, manos, vovós, titios e titias, primos e primas que tiveram medo por nós mas que nos apoiaram e confiaram que esta viagem nos ia fazer crescer (e como...!);
E também...
Sérgio e Luísa, pelas incansáveis e valiosíssimas dicas de quem por lá passou;
Ana, pelas dicas (outras dicas, para não repetir as de cima) + mochila (que se portou lindamente, devo dizer) + aquela cena que transportou o dinheiro sempre seguro e que nunca sei o nome;
Sandra, André, pela vossa presença e força constante que nos deram;
Regina, Rute e Ana Ascensão, pela consultoria médica e incrível mochila de primeiros-socorros, felizmente inútil;
Inês e Magdalena, pela vossa experiência em assuntos europeus (muito especificamente, comidaaaaaa);
Inês e Magdalena, pela vossa experiência em assuntos europeus (muito especificamente, comidaaaaaa);
E quase finalmente, mais uma vez ao Sérgio, que me pressionou a fazer este blog até conseguir. E, verdade seja dita, acabámos por empatar na originalidade do nome ;)
A todos, pela enorme força e pela presença assídua neste blog - e em nós - durante a nossa viagem.
Obrigado porque esta viagem foi profundamente marcada por pessoas.
OBRIGADO.